terça-feira, 13 de outubro de 2009

Invasores da cabeleira Saiba como combater os piolhos, insetos que podem provocar danos à sua saúde!
Imagem ampliada de piolho sobre cabelos (foto: Fábio Colombini)
Atenção! Atenção! Acaba de ser anunciado um alerta máximo contra seres que apresentam a seguinte descrição: antenas curtas, olhos reduzidos ou ausentes e três (isso mesmo!) três pares de pernas! Eles se alimentam de sangue e podem estar mais perto do que você imagina -- infiltrados nos seus cabelos!!!
Piolhos??? Sim, é deles que vamos falar! Seres pequenos que podem ser exterminados com a força de uma unha, mas que têm tudo para se transformar num problema tamanho gigante quando se multiplicam e provocam aquele coça-coça na cabeça. Por mais que pareça difícil combatê-los, não se deve desistir da batalha por uma razão muito séria: esses insetos podem provocar danos à saúde.
Os piolhos vivem na superfície do corpo de seu hospedeiro (nós!) e, ao contrário do que muita gente pensa, eles não voam porque não têm asas. Esses insetos possuem uma garra no último segmento das pernas que permitem a locomoção e a fixação nos fios do cabelo.
Os machos medem cerca de 2,4 milímetros e as fêmeas um pouco mais, aproximadamente 2,7 milímetros. Ambos se alimentam de sangue, que, no caso das fêmeas, é indispensável para a nutrição dos ovos. Estes, aliás, também são chamados de lêndeas e representam a primeira fase da vida de um piolho, que é seguida pela fase ninfa (quando saem do ovo) e pela fase adulta (quando estão prontos para a reprodução) -- num ciclo que tem duração de quatro semanas.
Cada fêmea pode colocar até seis ovos por dia! Isso quer dizer que uma cabeça que abrigue apenas um casal de piolhos em poucos dias terá dúzias desses moradores indesejados. E, se nada for feito, as dúzias vão se multiplicar e aí... Bem, aí é melhor parar com as contas porque já está dando uma coceira danada!
O principal sintoma da pediculose -- como é chamada a infestação por piolhos -- é mesmo a coceira na cabeça. O ato de coçar pode ferir o couro cabeludo e provocar infecções por bactérias e fungos. O coça-coça pode também interferir no sono e, conseqüentemente, afetar o rendimento escolar das crianças. Mas o pior é quando a pessoa tem muitos piolhos e uma alimentação deficiente em vitaminas: ela pode ficar anêmica, enfraquecida.
Quer mais uma razão para combater esses parasitas? Pois, então, guarde: eles são transmissores de doenças como a febre das trincheiras, a febre recorrente e o tifo exantemático, que têm como sintomas irritação da pele e febre. Essas doenças hoje são raras, mas, no passado, causaram muitas mortes, especialmente em épocas de guerra.
Embora seja mais comum nas crianças em idade escolar, os piolhos também infestam cabeças de adolescentes, adultos e idosos. A transmissão desses parasitas se dá, principalmente, pelo contato direto. Isso ocorre mais nas escolas com turmas muito cheias, em certas brincadeiras de maior contato físico e em meios de transporte superlotados. A transmissão indireta é menos comum, mas pode acontecer quando a gente usa pentes, escovas e bonés emprestados.
Quedinha para piolho
Diversas pesquisas revelam que há pessoas com tendência maior a ter piolhos do que outras. Isso pode estar ligado a fatores culturais -- como na Nigéria, onde as mulheres têm o hábito de manter seus cabelos enrolados em tranças por muitos dias, dificultando uma higiene adequada.
Fatores genéticos também contribuem, neste caso é a forma do fio de cabelo que indicaria maior ou menor propensão aos piolhos. Em um microscópio especial, é possível ver que os fios de cabelo dos negros, em geral, têm formato oval, enquanto nos não-negros o fio costuma ter formato arredondado. Pelo que se descobriu até agora, parece que as garras dos piolhos possuem maior fixação nos fios de forma arredondada. Esse é um dado curioso. Mas, atenção: isso não quer dizer que pessoas negras não peguem piolho!!!
A essa altura do texto, alguém já deve estar se perguntado sobre o sangue. Será verdade que algumas pessoas têm sangue que atrai piolhos? Atualmente, é isso que os pesquisadores vêm tentando descobrir. Logo, logo será possível confirmar ou desmentir mais essa crença em torno dos piolhos.
Por outro lado, é possível afirmar que para cada animal -- gatos, cães, bois e aves, por exemplo -- há um tipo de piolho específico. Assim, os piolhos humanos não infestam outros animais e vice-versa! Ainda bem, né?! Já é uma guerra se livrar de piolho que dá em gente, imagina ter que combater outros!
Falando em combate, não poupe esforços se a sua cabeça começar a coçar. Peça a alguém para catá-la com atenção e use o pente-fino para ajudar a retirar lêndeas, ninfas e adultos. Lavar o cabelo com freqüência também ajuda a combater os piolhos. Mas não basta lavar só com água porque esses insetos não morrem afogados. Eles têm aberturas respiratórias que se fecham quando eles se molham e, passado o aguaceiro, eles voltam a respirar normalmente. O uso de medicamentos específicos para pediculose às vezes é necessário. Mas o médico é que deve indicar o melhor produto e a maneira de usá-lo.
Agora vamos deixar claro uma coisa: qualquer um pode ter piolho, cada qual tem que cuidar da sua cabeça, mas esse cuidado não adianta muito se outras pessoas não fizerem o mesmo e continuarem transmitindo. Por isso, piolho é considerado um caso de saúde pública. Logo, é responsabilidade dos governantes manter as pessoas informadas sobre os males da pediculose e sobre como devem se cuidar. Programas de educação em saúde em escolas, hospitais e asilos, por exemplo, são importantíssimos para controlar esse parasita.
E olha que você também pode ajudar! Que tal passar adiante as informações deste texto e criar uma minicampanha contra os piolhos na sua escola e na vizinhança? Chame os amigos, faça cartazes, marque reuniões com outras crianças para que elas também saibam o que os piolhos podem provocar e passem aos pais o que aprenderem. Tudo isso pode ser feito de forma divertida, sem preconceito. Afinal de contas, o piolho que está na cabeça do seu colega, amanhã pode estar na sua, não é?
Ciência Hoje das Crianças 134, abril 2003Raquel Borges,Núcleo de Imunologia, Parasitologia e MicrobiologiaUniversidade Federal de Uberlândia (UFU)Curso de pós-graduação em EntomologiaInstituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA)Júlio Mendes,Núcleo de Imunologia, Parasitologia e MicrobiologiaUniversidade Federal de Uberlândia (UFU).Bruno Lassmar Bueno Valadares,Curso de pós-graduação em Genética e Bioquímica Instituto de Genética e Bioquímica Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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